Fonte: Agência Brasil
Brasília - Na terceira parte da entrevista à Agência Brasil, o novo embaixador brasileiro no Timor Leste, Édson Monteiro, defende a participação brasileira na Missão Integrada das Nações Unidas no Timor Leste (Unmit) e a manutenção das tropas militares no país. O diplomata também comenta a presença militar australiana no país.
O presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, teve alta esta semana depois de mais de um mês internado em um hospital da Austrália. Nas próximas semanas, deve reassumir o comando de seu país.
ABr - O Brasil mantém contingentes militares no Timor Leste, como faz no Haiti?
Monteiro - Temos apenas alguns policiais do Exército e policiais militares treinando policiais timorenses, e quatro observadores militares brasileiros dentro da estrutura das Nações Unidas. Num primeiro momento, quando saiu a independência, o Brasil teve o maior contingente de tropa, cerca de 180, que ficaram lá até a independência. Eu adoraria realmente que se aumentasse a presença brasileira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso aqui ao presidente Ramos-Horta, disse que o Brasil também estava disposto a cooperar mais na área de segurança e na área militar. Ainda não sei como isso vai ser traduzido, mas tenho esperança.
ABr - Até quando será necessária a presença de tropas militares no Timor Leste?
Monteiro - O Timor vai ter que criar novas Forças Armadas. Não sabemos quanto tempo isso vai levar. Eles ainda não têm o projeto, mas já nos disseram que vão criar uma força terrestre moderna, despolitizada, para cuidar apenas da segurança, e já nos disseram que gostariam muito de contar com o apoio brasileiro para isso.
ABr - A Missão Integrada das Nações Unidas (Unmit), que está no Timor Leste desde 2002, acaba de ser estendida até fevereiro de 2009...
Monteiro - Nossa posição é de que esse mandato tem que ser prorrogado por prazo ainda indefinido. Não adianta sair correndo se não tiver certeza de que há uma estrutura que possa funcionar sozinha. A situação é avaliada a cada ano por um grupo de países do qual o Brasil faz parte. Nossa palavra tem sido sempre de que é preciso manter.
ABr - A Austrália mantém no Timor um contingente militar maior que o das Nações Unidas. Essa presença maciça não pode atrapalhar a criação de uma identidade nacional?
Monteiro - Criou-se essa situação, que não é a ideal. O Brasil preferiria que houvesse tropas das Nações Unidas para atender as necessidades de segurança, mas o governo se sentiu ameaçado com o conflito de 2006 porque havia dissidências de militares, pessoas armadas e treinadas. O governo do Timor então fez um apelo emergencial à Austrália, país mais próximo, e também à Nova Zelândia e a Portugal para que enviassem tropas. Não há dúvida de que a ajuda era necessária, mas a quantidade de militares, o tipo de armamento que levaram nos deixa muito preocupados porque são militares de ataque. O que havia era uma situação de insegurança, deveriam ter sido enviados policiais militares, como fez Portugal. Enviaram o Exército, e está lá. Deixa uma impressão preocupante, deve estar causando uma reação negativa no povo, não temos como medir. Isso acabou resultando em uma cordo entre Austrália, o Timor e as Nações Unidas pelo qual ficou reconhecida a cooperação australiana nos moldes em que ela foi oferecida. Não podemos dizer que isso significa uma tutela, um controle, o governo do Timor atua de forma independente. Mas traduz, certamente, uma preocupação estratégica da Austrália com a situação do Timor, que é o país mais próximo de seu território. É óbvio que a Austrália vai continuar mantendo, tanto quanto possível, uma presença muito forte lá.
ABr - O interesse maior da Austrália é político ou econômico?
Monteiro - A Austrália faz a exploração do petróleo, mas acho que é mais do que isso. O Timor é uma área que estava conturbada e é muito próxima. Não pode haver ali um governo que seja hostil à Austrália.
ABr - Há uma aliança entre o governo de Ramos-Horta e a Austrália?
Monteiro - Não podemos dizer que seja uma aliança. É um reconhecimento, de fato, de que este parceiro é incontornável, é necessário. Mas Ramos-Horta também está buscando parceria com a Indonésia. A primeira visita que fez depois de eleito foi à Indonésia, onde levou uma mensagem muito clara de que é preciso apagar o passado, fazer a reconciliação e entender a realidade de que eles estão juntos, umbilicalmente ligados, e a parceria entre os dois é muito natural.